Novas tecnologias e equipamentos para tratamentos estão à disposição tanto na rede pública como na privada
Com os grandes avanços em várias áreas do conhecimento no século 20 e no início do século 21, vivemos um período que pode ser considerado de envelhecimento ativo e saudável, com importantes mudanças no perfil da população, que tem também demandas específicas. Neste contexto, a tecnologia pode trazer soluções, desafios e funcionar com importante resposta para problemas de uma sociedade que vive em constante processo de envelhecimento. Este é o cerne da gerontecnologia, campo de conhecimento interdisciplinar que busca facilitar a interação entre a tecnologia e o envelhecimento da população.
A neurociência do envelhecimento se concentra no impacto do envelhecimento no sistema nervoso. Isso inclui o estudo de como o cérebro muda ao longo do tempo e como a ciência pode ajudar as pessoas a encontrar melhores maneiras de lidar com as mudanças ao longo deste processo. “Muitos esforços têm sido engendrados em pesquisas sobre os temas relativos à aprendizagem, melhora da performance motora e cognitiva, plasticidade cerebral, ao sono e descanso e as adaptações às novas experiências, vitalidade e felicidade, além dos impactos do envelhecimento e os declínios relacionados à idade”, relata Carla da Silva Santana Castro, presidente da Sociedade Brasileira de Gerontecnologia (SBGTEC) e professora da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.
As pesquisas na área da neurociência para a população idosa vêm buscando formas de realizar diagnósticos diferenciais precoces com uso de biomarcadores, análises funcionais e protocolos de avaliação neuropsicológica, a fim de ter maior especificidade e sensibilidade na detecção de possíveis doenças e no acompanhamento dos quadros. Os estudos também têm contribuído no desenvolvimento de recursos tecnológicos e equipamentos. “O uso da tecnologia está possibilitando a proximidade dos idosos com a sociedade, mantendo-os com autonomia, independência e autocuidado. Dessa forma, podem realizar suas atividades físicas, cognitivas e acompanhamentos médicos e psicológicos”, lembra a psicóloga e neuropsicóloga Fabíola Canali Prado.
Carla Castro também destaca o boom dos aplicativos para smartphone, que têm sido amplamente usados para funções que estão muito além da comunicação e informação. Hoje, há aplicativos com foco na saúde mental, que vão desde a meditação e relaxamento guiados às vivências de mindfulness (exercícios para focar a atenção em diversas situações); aplicativos (apps) para a prevenção e monitoramento de quedas, organização e gerenciamento de remédios, ou para o monitoramento de dados relativos à saúde; além dos apps de jogos com foco nos estímulos cognitivos, dentre outros.
Fabíola lembra do desenvolvimento de tablets e celulares, com teclados e telas maiores, que facilitaram o uso dos idosos, bem como os assistentes virtuais e aplicativos com comando de voz para realizar ligações, solicitar ajuda em uma emergência, deixando os familiares mais tranquilos e os idosos menos vulneráveis. São todos equipamentos que permitem que os idosos continuem vivendo em suas residências, não necessitando mudarem para casa dos filhos ou para uma casa de repouso.
“A tecnologia está mudando a medicina e a inovação digital está revolucionando a saúde. Destacam-se na área a incorporação de inovações nas práticas em saúde como a impressão 3D, Big Data (estudo e análise de grandes dados), experimentação acelerada, apps de celular, monitorização e sensoriamento remoto, a telessaúde e a telemedicina, uso de realidade aumentada e exergames (jogos com captura de movimentos). O uso de equipamentos robóticos, de realidade virtual e aumentada, os simuladores que podem ser importantes aliados ao contexto terapêutico”, destaca a presidente da SBGTEC.
Ela salienta, ainda, que a tecnologia está para muito além dos equipamentos, englobando as estratégias e métodos, o que inclui as tecnologias de baixo custo que podem funcionar perfeitamente na maioria dos contextos. Carla cita como exemplos o uso do smartwatch (relógio inteligente) para a comunicação ou monitoramento de sinais, ou um software que permite a navegação e uso do computador acionado por voz ou pelos movimentos oculares; ou ainda um sensor de movimento que pode apoiar um cuidador de uma pessoa que perambula durante o sono, ou mesmo o design de ambiente mais acessível e funcional para pessoas com demência.
“Robôs de reabilitação têm sido desenvolvidos para auxiliar na reabilitação física de pacientes após AVC, trauma raquimedular (TRM) e lesões cerebrais, em particular abordando vários déficits motores e funcionais. Suas outras funções incluem o alívio das cargas físicas dos terapeutas, aumento da prática de movimentos dos membros acometidos, exercícios de intensidade”, revela Carla.
Mas ela ressalta que, para desfrutar de todas essas tecnologias, é preciso pensar no acesso, em conexões significativas para os usuários, o que inclui equipamentos robustos e banda de internet significativa. “A questão da necessidade de desenvolver habilidades digitais básicas, intermediárias e avançadas na população idosa é um dos principais desafios atuais e para o futuro, pois embora tenha havido um avanço grande neste aspecto, há um número significativo de idosos sem acesso à internet no domicílio, a equipamentos e sem habilidades digitais, com dependência de um terceiro para operar esses sistemas”, informa.
Rede pública e privada
Todas essas novidades tecnológicas na neurociência estão acessíveis para os idosos tanto na rede pública como na rede privada. No âmbito da telessaúde e da telemedicina, há um grande avanço na rede privada, especialmente pela velocidade na qual os seus processos são construídos. Mas na rede pública também já há o pleno uso de aplicativos que vão desde o monitoramento de sinais ao gerenciamento de medicações, ou alta segura.
“Temos importantes equipamentos já inseridos em tratamentos de alta média e baixa complexidade. Não se encontram equipamentos feitos em impressora 3D, videogames ou simuladores em qualquer hospital ou unidade de saúde. Mas a própria incorporação de tecnologia pela saúde também tem seu próprio tempo, e não acompanha a velocidade do desenvolvimento de tecnologia”, diz Clara Castro, que destaca que a gerontecnologia será uma das principais áreas da medicina a ser desenvolvida no Brasil, pois não há como frear o desenvolvimento da tecnologia e as soluções que ela pode trazer às necessidades dos idosos, que é imensa.
Fabíola Prado lembra que pesquisas na área médica normalmente são realizadas nos hospitais-escola e, por isso, vale a pena o idoso entrar em contato com o centro mais próximo para verificar se existe a possibilidade de participar de alguma pesquisa que esteja utilizando algum recurso tecnológico, exame ou intervenção que possa lhe beneficiar. “A participação nesse tipo de pesquisa é gratuita, bastando que a pessoa se enquadre no perfil da população a ser estudada. A internet é um recurso que os profissionais da saúde e da neurociência têm utilizado para informar, educar e estimular cognitivamente os idosos de forma gratuita, com canais no YouTube, Instagram e Facebook, nos quais as pessoas podem assistir e interagir, possibilitando maior interação social e aquisição de novos conhecimentos”, confirma.